quinta-feira, 1 de maio de 2014

Nossa homenagem maior: Ayrton Para Sempre

 De início, sobre este texto, posso dizer que não foi fácil. Parece ser simples, algo tão comum falar sobre o que conhecemos, mas nem sempre é assim. Falar do Ayrton, então...
Vamos lá! Sempre fui um apaixonado pelos esportes. Quando pequeno, só tinha conhecimento – e bom conhecimento – de dois: futebol e automobilismo. Fórmula Um, pra ser mais direto. Gostava tanto da F-1, que odiava a Indy (Luciano do Valle que me perdoe). Ali, estava minha maior identificação. Sempre fui de manter certas rotinas e, entre elas, estava a de acompanhar as corridas de F-1. Tudo por causa de um cara que me fazia sorrir...
Meu domingo era dividido da seguinte forma: acordar, tomar café, assistir F-1, McGyver (Profissão Perigo) e futebol italiano. Então, conheci bem o Ayrton piloto. Nossa! Como aquele cara tinha habilidade no volante. Ele era sensacional! Quem, nos dias de hoje, conseguiria fazer o que ele fez? Um piloto de uma equipe pequena, sem expressão, dando trabalho aos grandões. Isso com uma Toleman. Quem lembra desta equipe? Foi para a Lotus, onde realmente mostrou todo seu arrojo. E era uma época em que o piloto tinha que provar que merecia subir para uma equipe de primeira linha. Foram três temporadas na Lotus.

Lembro com carinho a época de Mclaren. Cinco anos inesquecíveis. Os duelos com Alain Prost, seja como companheiros de equipe ou quando o francês foi para Ferrari e, posterior, Williams. As faíscas saídas do duelo com o britânico Nigel Mansell. As brigas com o gaiato e estreante alemão Michael Schumacher.

...(pausa)...

Senna foi um atleta, profissional, piloto acima do comum. Ele conseguia proezas em corridas perdidas; ultrapassagens em aberturas invisíveis; controle sobre-humano sobre os carros. Tinha o dom de nos fazer sorrir. Como era bom ouvir a voz do Galvão entoando: “Aí vem ele. Vem para a vitória. Ayrton! Ayrton! Ayrton Senna do Brasil!”. Assim, nascia a lenda Ayrton Senna do Brasil. E como era bom chama-lo assim. Ele trazia emoção. E não me importava de perder sono, ficar acordado pela madrugada, esperando o GP do Japão, que, geralmente, decidia um campeonato.
Alguns momentos são inesquecíveis. Lembro com carinho da prova em que seu maior algoz, aquele francesinho, foi parar fora da pista com Senna. Dizem que foi revide, afinal, ele tinha passado por situação parecida, em Suzuka, no Japão, em 1989. A respeito disso, dizem que o Ayrton era desleal. Mas era um contraponto a todo virtuosismo que ele desfilava fora da cabine do carro de F-1.

...(pausa)...

Nunca gostei da mudança de equipe. Pode parecer preciosismo de fã, mas eu vivi uma infância de identificação. E, pra mim, Senna estava identificado com McLaren. Muito badalada, a ida para a Williams foi a única atitude dele que reprovei. De repente, passam-se alguns grandes prêmios e chega o mês de abril de 1994.
A partir daqui, fica mais complicado de escrever. As lembranças enrolam e é difícil traduzir em palavras. Prefiro fazer perguntas. Porque o acidente com Rubens Barrichello aconteceu? Porque não tiraram uma lição imediata ali? Porque o episódio se repetiu com Roland Ratzenberger, só que de forma mais grave? Porque a morte do austríaco não foi entendida como um sinal de insegurança na principal prova do automobilismo mundial? Porque mantiveram aquele Grande Prêmio? Porque tudo isso teve que acontecer?

O que sabemos é que Senna entrou naquele carro número 8 da Williams para nunca mais descer com as próprias pernas. A Tamburello não sabe o que tirou. O Circuito de Ímola não sabe o que de marcante ficou nele. Aquele carro não sabe que não foi só ele que saiu destruído daquele acidente. Milhares de corações sofreram o mesmo impacto. Foram dilacerados e ficaram bem pior que todo aquele ferro retorcido.
20 anos se passaram, mas a dor ainda é a mesma. Tentei acompanhar a Fórmula 1 de novo, quando Rubens Barrichello venceu seu primeiro GP. Mas era impossível. O maior símbolo do esporte no Brasil e no mundo já não estava aqui.
Resta a saudade. Saudades de ouvir aquela música com o sentido criado para ela; de ouvir o chato do Galvão Bueno berrando o nome dele na linha de chegada; de ver a bandeira brasileira dando voltas na pista; de ver a mesma subindo no topo, durante a premiação; de ver aquele banho de champanha como quem tirasse um peso de cima do corpo.
Resta a saudade. E a boa lembrança.



*Nota: o texto foi produzido certa demora. Não foi fácil. Além do questão emocional, tem o ponto profissional. Parte texto foi construída no carro de externa, a caminho das reportagens; outra parte, na redação; a conclusão, em casa.

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