segunda-feira, 5 de maio de 2014

A cobertura automobilística ficou órfã com a morte de Ayrton Senna?

A manhã de 1º de maio de 1994 ficou marcada pela morte de Ayrton Senna, tricampeão mundial de Fórmula 1. Nesta quinta-feira, quando são completados 20 anos do trágico acidente no circuito de Ímola, dezenas de veículos promovem reportagens especiais para homenagear o ídolo.
Os portais IG, Terra e UOL investiram em páginas destinadas ao piloto, tecendo seu perfil, com fotos e fatos marcantes. A Rede Globo exibe o documentário ‘Ayrton Senna do Brasil’, no ‘Esporte Espetacular’ (faltando ir ao ar o último de quatro de episódios). O material contou com depoimentos de jornalistas como Pedro Bial, Galvão Bueno e William Bonner.
---------------SENNA-DIVULGACAO-AYRTONSENNA-Morte do ídolo das pistas completa 20 anos
(Imagem: Montagem/ayrtonsenna.com.br)
Primeiro a noticiar a morte de Senna, o repórter Roberto Cabrini voltou à pista de San Marino para contar a trajetória do automobilista e a história do último fim de semana de vida dele. O resultado da viagem do jornalista do SBT virou material ‘Conexão Repórter’. Os passos finais e o legado do piloto também são pauta para jornais e rádios nacionais e internacionais.
O nome de Senna, no entanto, não voltou ao cenário nacional apenas agora. Ele sempre foi tema de programas e inspirou obras literárias como Uma Lenda a Toda Velocidade, de Christopher Hilton; O Herói Revelado, de Ernesto Rodrigues; e o recém-lançado All His Races, que detalha todas as suas corridas, escrito pelo jornalista inglês Tony Dodgins.
Em reverência ao ícone do esporte, o Comunique-se fez a seguinte pergunta a jornalistas da área de esportes: “A cobertura automobilística ficou órfã com a morte de Ayrton Senna?”. Confira abaixo os depoimentos de Milton Neves, Julio Deodoro, Marcondes Brito, Bruno Pessa e Marcelo Eduardo Cavalcante:

Milton Neves, apresentador e colunista do Grupo Bandeirantes
Desde que Ayrton Senna apareceu no cenário automobilístico como genial, a cobertura automobilística no Brasil ganhou um impulso sem precedentes, apesar das conquistas anteriores, de Emerson e Piquet. Aliás, ficamos “mal acostumados”, pois foram oito campeonatos mundiais.
No período de conquistas de Senna, houve, inclusive, uma migração na imprensa, gente que “só” cobria futebol, passou também a falar e escrever sobre Fórmula 1. Vale lembrar que vivemos um jejum de títulos mundiais no futebol, entre 1970 e 1994. A Fórmula 1, em grande parte, cobriu as frustrações brasileiras nos gramados.
Costumo brincar, dizendo que a Fórmula 1 virou turfe no Brasil. Claro, é um exagero, mas, sem dúvida, perdemos muito em interesse por não termos tido nenhum campeão de Fórmula 1 depois de Ayrton.
Mas, em contrapartida, existe “luz no fim do túnel”. No Portal Terceiro Tempo, desde 2009, temos um espaço dedicado ao automobilismo, trazendo jovens e promissores pilotos e também nomes renomados para entrevistas, semanalmente, no nosso “BellaMacchina”, além de coberturas in loco de diversos eventos do esporte a motor.
Outro Senna? Assim como Pelé e Eder Jofre, nunca mais. Porém, se surgir algum brasileiro capaz de ganhar e, principalmente empolgar, a cobertura automobilística recupera o fôlego...
E, neste 1º de maio de 2014, lembro com detalhes de tudo aquilo que aconteceu há 20 anos, um dos dias mais tristes da minha vida, mas um dos trabalhos mais importantes que fiz, à época pelo microfone da Jovem Pan.

Julio Deodoro, superintendente da Gazeta Esportiva
Conheci o nosso campeão, Ayrton Senna, no início de sua carreira, ainda um jovem promissor piloto, determinado e obstinado pela velocidade e sabedor do que queria e onde chegaria e chegou. Na semana que antecedeu a sua ida para a Europa, onde iniciaria sua gloriosa carreira na Fórmula 1, visitou todas as redações, em especial a da Gazeta Esportiva, ainda na era do impresso, que o acompanhou desde o inicio da carreira. Tive a honra e o prazer de recebê-lo no terceiro andar da Barão de Limeira, 401, onde se localizava a nossa redação.
Senna fazia questão de levar pessoalmente seus releases a todas as editorias esportivas. Era uma de suas marcas registradas. Foram momentos de alegria, de histórias lembrando as aventuras nas pistas, dos bastidores da modalidade, do empenho do pai em demovê-lo da ideia de prosseguir nas pistas, inclusive oferecendo a ele a direção empresa, mas nada o convenceria a mudar os rumos da careira que traçara com cuidado e objetividade.
Nasceu realmente para pilotar. Acompanhamos, por meio das páginas de A Gazeta Esportiva, todos os passos de sua carreira até a hora fatal, levando aos nossos leitores detalhadamente os melhores e o pior momento, o acidente, marcado de comoção mundial, tal a sua importância para o esporte e o respeito de seus fãs.
A partir desse momento, o silêncio tomou conta das redações esportivas do mundo inteiro, perdemos um ícone do automobilismo, mas a vida continua e o esporte também. Foi difícil para todos entenderem que as coberturas da Fórmula 1 nunca mais seriam as mesmas. Depois de Senna, com saudade do grande campeão, foi difícil nos acostumar com as manhãs de domingo sem o ronco do motor de seu carro. As transmissões sentiram sua ausência.

Marcondes Brito, comentarista da Bradesco Esportes FM
Estava de folga naquele 1º de maio de 1994 e tentava aproveitar o domingo com a minha família. Eu era editor de esportes do Correio Braziliense, o mais importante jornal do Distrito Federal. Naquele tempo - diferentemente de hoje - o país inteiro parava nas manhãs de domingos para acompanhar a F1.
Em Ímola, Ayrton Senna largaria na pole position no GP de San Marino, terceira prova do campeonato. Esforçava-me para não pensar na corrida porque, afinal, para mim a Fórmula 1, como todos os esportes, era trabalho.
Toca o meu celular e alguém me avisa do acidente e da possibilidade de Ayrton Senna morrer. Corri para a redação e começou uma maratona para mim. Ricardo Noblat, o diretor de redação do jornal, queria um caderno especial. A angústia pela situação de Ayrton e a obsessão pela apuração dos fatos misturavam-se numa competição assustadora.
Passados esses 20 anos, acho que é muito pouco dizer que ele foi apenas um dos melhores pilotos da F1. Talvez não exista um personagem tão rico e tão carismático quanto ele. No futebol, também não haverá outro Pelé, mas o nosso país já revelou muitas safras de craques que foram capazes de nos manter sempre no topo do mundo. Mas inútil tentar comparar Ayrton Senna com outros pilotos. Desde aquele 1º de maio de 1994 os nossos domingos nunca mais foram os mesmos.

Bruno Pessa, blogueiro do IG
Diria que ficou um pouco órfã, sim, porque desde o início dos anos 80 a imprensa automobilística brasileira estava acostumada em ter pelo menos um grande piloto nacional lutando por vitórias e títulos.
A morte de Senna deixou uma lacuna nesse sentido, porque os compatriotas que restavam na categoria, Barrichello e Christian Fittipaldi, eram muito jovens e não tinham carros para vencer na época.
E como o interesse do brasileiro na F1 está muito ligado à expectativa de vitória dos pilotos nacionais, sobretudo nas transmissões pela TV, Barrichello virou o candidato a herói a quem torcer, o que fez de seus fracassos uma decepção nacional, maior ainda do que se Senna continuasse vivo e ativo.

Marcelo Eduardo Cavalcante, do NE10
Bom, cresci apaixonado por futebol. Mas não tinha como não assistir às corridas de Fórmula 1 nos domingos. Quando comecei a acompanhar, Nelson Piquet era o ídolo nacional. Vi a conquista do bicampeonato mundial. Depois, as boas brigas na pista com Nigel Mansell e Alain Prost. E aí, apareceu Ayrton Senna. Um gênio das pistas. Um cara arrojado que conquistou o mundo com simplicidade e coragem impressionantes. Ayrton se transformou num ícone brasileiro.
Domingo tinha a sua cara. Mesmo quem não gostasse de Fórmula 1 se envolvia com as suas vitórias. Porque cada uma delas tinha vida, emoção. Ayrton passou a fazer parte da minha vida e da vida de milhares de brasileiros. Eu já estava acostumado a ver suas ultrapassagens, as vitórias, o riso, as lágrimas. Senna virou super-heroi não por exagero da mídia, mas pelo seu talento. Ele parecia ser invencível. Mas ele era humano até demais. Morreu fazendo o que mais amava. Aquele domingo, 1º de maio de 1994, foi o mais triste do mundo esportivo.


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