A manhã de 1º de maio de 1994 ficou
marcada pela morte de Ayrton Senna, tricampeão mundial de Fórmula 1.
Nesta quinta-feira, quando são completados 20 anos do trágico acidente
no circuito de Ímola, dezenas de veículos promovem reportagens especiais
para homenagear o ídolo.
Os portais IG, Terra e UOL investiram em páginas destinadas ao
piloto, tecendo seu perfil, com fotos e fatos marcantes. A Rede Globo
exibe o documentário ‘Ayrton Senna do Brasil’, no ‘Esporte Espetacular’
(faltando ir ao ar o último de quatro de episódios). O material contou
com depoimentos de jornalistas como Pedro Bial, Galvão Bueno e William
Bonner.
O nome de Senna, no entanto, não voltou ao cenário nacional apenas
agora. Ele sempre foi tema de programas e inspirou obras literárias como
Uma Lenda a Toda Velocidade, de Christopher Hilton; O Herói Revelado, de Ernesto Rodrigues; e o recém-lançado All His Races, que detalha todas as suas corridas, escrito pelo jornalista inglês Tony Dodgins.
Em reverência ao ícone do esporte, o Comunique-se fez a seguinte
pergunta a jornalistas da área de esportes: “A cobertura automobilística
ficou órfã com a morte de Ayrton Senna?”. Confira abaixo os depoimentos
de Milton Neves, Julio Deodoro, Marcondes Brito, Bruno Pessa e Marcelo
Eduardo Cavalcante:
Milton Neves, apresentador e colunista do Grupo Bandeirantes
Desde
que Ayrton Senna apareceu no cenário automobilístico como genial, a
cobertura automobilística no Brasil ganhou um impulso sem precedentes,
apesar das conquistas anteriores, de Emerson e Piquet. Aliás, ficamos
“mal acostumados”, pois foram oito campeonatos mundiais.
No período de conquistas de Senna, houve, inclusive, uma migração
na imprensa, gente que “só” cobria futebol, passou também a falar e
escrever sobre Fórmula 1. Vale lembrar que vivemos um jejum de títulos
mundiais no futebol, entre 1970 e 1994. A Fórmula 1, em grande parte,
cobriu as frustrações brasileiras nos gramados.
Costumo brincar, dizendo que a Fórmula 1 virou turfe no Brasil.
Claro, é um exagero, mas, sem dúvida, perdemos muito em interesse por
não termos tido nenhum campeão de Fórmula 1 depois de Ayrton.
Mas, em contrapartida, existe “luz no fim do túnel”. No Portal
Terceiro Tempo, desde 2009, temos um espaço dedicado ao automobilismo,
trazendo jovens e promissores pilotos e também nomes renomados para
entrevistas, semanalmente, no nosso “BellaMacchina”, além de coberturas
in loco de diversos eventos do esporte a motor.
Outro Senna? Assim como Pelé e Eder Jofre, nunca mais. Porém, se
surgir algum brasileiro capaz de ganhar e, principalmente empolgar, a
cobertura automobilística recupera o fôlego...
E, neste 1º de maio de 2014, lembro com detalhes de tudo aquilo
que aconteceu há 20 anos, um dos dias mais tristes da minha vida, mas um
dos trabalhos mais importantes que fiz, à época pelo microfone da Jovem
Pan.
Julio Deodoro, superintendente da Gazeta Esportiva
Conheci
o nosso campeão, Ayrton Senna, no início de sua carreira, ainda um
jovem promissor piloto, determinado e obstinado pela velocidade e
sabedor do que queria e onde chegaria e chegou. Na semana que antecedeu a
sua ida para a Europa, onde iniciaria sua gloriosa carreira na Fórmula
1, visitou todas as redações, em especial a da Gazeta Esportiva, ainda
na era do impresso, que o acompanhou desde o inicio da carreira. Tive a
honra e o prazer de recebê-lo no terceiro andar da Barão de Limeira,
401, onde se localizava a nossa redação.
Senna fazia questão de levar pessoalmente seus releases a todas
as editorias esportivas. Era uma de suas marcas registradas. Foram
momentos de alegria, de histórias lembrando as aventuras nas pistas, dos
bastidores da modalidade, do empenho do pai em demovê-lo da ideia de
prosseguir nas pistas, inclusive oferecendo a ele a direção empresa, mas
nada o convenceria a mudar os rumos da careira que traçara com cuidado e
objetividade.
Nasceu realmente para pilotar. Acompanhamos, por meio das páginas
de A Gazeta Esportiva, todos os passos de sua carreira até a hora
fatal, levando aos nossos leitores detalhadamente os melhores e o pior
momento, o acidente, marcado de comoção mundial, tal a sua importância
para o esporte e o respeito de seus fãs.
A partir desse
momento, o silêncio tomou conta das redações esportivas do mundo
inteiro, perdemos um ícone do automobilismo, mas a vida continua e o
esporte também. Foi difícil para todos entenderem que as coberturas da
Fórmula 1 nunca mais seriam as mesmas. Depois de Senna, com saudade do
grande campeão, foi difícil nos acostumar com as manhãs de domingo sem o
ronco do motor de seu carro. As transmissões sentiram sua ausência.
Marcondes Brito, comentarista da Bradesco Esportes FM
Estava
de folga naquele 1º de maio de 1994 e tentava aproveitar o domingo com a
minha família. Eu era editor de esportes do Correio Braziliense, o mais
importante jornal do Distrito Federal. Naquele tempo - diferentemente
de hoje - o país inteiro parava nas manhãs de domingos para acompanhar a
F1.
Em Ímola, Ayrton Senna largaria na pole position no GP de San
Marino, terceira prova do campeonato. Esforçava-me para não pensar na
corrida porque, afinal, para mim a Fórmula 1, como todos os esportes,
era trabalho.
Toca o meu celular e alguém me avisa do acidente e da
possibilidade de Ayrton Senna morrer. Corri para a redação e começou uma
maratona para mim. Ricardo Noblat, o diretor de redação do jornal,
queria um caderno especial. A angústia pela situação de Ayrton e a
obsessão pela apuração dos fatos misturavam-se numa competição
assustadora.
Passados esses 20 anos, acho que é muito pouco dizer que ele foi
apenas um dos melhores pilotos da F1. Talvez não exista um personagem
tão rico e tão carismático quanto ele. No futebol, também não haverá
outro Pelé, mas o nosso país já revelou muitas safras de craques que
foram capazes de nos manter sempre no topo do mundo. Mas inútil tentar
comparar Ayrton Senna com outros pilotos. Desde aquele 1º de maio de
1994 os nossos domingos nunca mais foram os mesmos.
Bruno Pessa, blogueiro do IG
Diria que ficou
um pouco órfã, sim, porque desde o início dos anos 80 a imprensa
automobilística brasileira estava acostumada em ter pelo menos um grande
piloto nacional lutando por vitórias e títulos.
A morte de Senna deixou uma lacuna nesse sentido, porque os
compatriotas que restavam na categoria, Barrichello e Christian
Fittipaldi, eram muito jovens e não tinham carros para vencer na época.
E como o interesse do brasileiro na F1 está muito ligado à
expectativa de vitória dos pilotos nacionais, sobretudo nas transmissões
pela TV, Barrichello virou o candidato a herói a quem torcer, o que fez
de seus fracassos uma decepção nacional, maior ainda do que se Senna
continuasse vivo e ativo.
Marcelo Eduardo Cavalcante, do NE10
Bom,
cresci apaixonado por futebol. Mas não tinha como não assistir às
corridas de Fórmula 1 nos domingos. Quando comecei a acompanhar, Nelson
Piquet era o ídolo nacional. Vi a conquista do bicampeonato mundial.
Depois, as boas brigas na pista com Nigel Mansell e Alain Prost. E aí,
apareceu Ayrton Senna. Um gênio das pistas. Um cara arrojado que
conquistou o mundo com simplicidade e coragem impressionantes. Ayrton se
transformou num ícone brasileiro.
Domingo tinha a sua cara. Mesmo quem não gostasse de Fórmula 1 se
envolvia com as suas vitórias. Porque cada uma delas tinha vida,
emoção. Ayrton passou a fazer parte da minha vida e da vida de milhares
de brasileiros. Eu já estava acostumado a ver suas ultrapassagens, as
vitórias, o riso, as lágrimas. Senna virou super-heroi não por exagero
da mídia, mas pelo seu talento. Ele parecia ser invencível. Mas ele era
humano até demais. Morreu fazendo o que mais amava. Aquele domingo, 1º
de maio de 1994, foi o mais triste do mundo esportivo.
fonte: Portal Comunique-se
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