Desde pequeno, eu já
acompanhava o futebol e a Fórmula 1 pelas transmissões na TV. Estava acostumado
com as narrações de Galvão Bueno, Oliveira Andrade e o novato Cléber Machado. Mas,
no ano de 1992, as Olimpíadas de Barcelona me deu a oportunidade de conhecer
outros nomes. Especificamente, da TV Bandeirantes: Sílvio Luiz (“Balançou o
capim do fundo do gol!”), Marco Antonio (“Afunda, afunda, afunda... Afundou!”),
Januário de Oliveira (“E o gol!!!!”), entre outros. O comandante deles atendia
pelo nome de Luciano do Valle. Não tinha uma frase marca registrada – apesar de
ter criado o slogan “Bandeirantes: o canal do esporte.”
Descobri o Luciano quase que
sem querer. Muitos dos jogos de Barcelona-92 aconteciam entre a manhã e o final
da tarde. Os principais eram à tarde. Aquele time mágico do vôlei que tinha
Marcelo Negrão, Tande, Maurício, Paulão, Carlão, entre outros, que viriam a
conseguir o inédito ouro olímpico, jogava quase sempre depois do meio-dia. Como
acompanhar os jogos então, já que eu, com 11 anos de idade, não passava de um
menino que tinha a obrigação de estudar e estar nas aulas que eram no turno
vespertino? Foi, aí, que descobri um canal que funcionava também no rádio. Não era
porque eles lá de São Paulo faziam isso. É a que a TV Cidade, retransmissora da
Bandeirantes aqui em São Luís-MA nos anos 80 e 90, também estava no rádio (e
está até hoje) na freqüência 87,8 Mhz. Dessa forma, pegava escondido o radinho
de pilha da minha irmã mais nova, o fone de ouvido daqueles pequenos que era de
outra irmã e seguia para o colégio. Na hora do jogo, o radinho ficava dentro da
mochila; o fone vinha por dentro do blusão e saía atrás, por onde era puxado até
a orelha, encaixado nela. Eu ficava ali, quietinho, com a mão por cima do fone,
para a professora não ver. E, assim, ouvi muitas disputas de Barcelona-92. Não só
as de vôlei, mas também basquete, natação, judô, tênis de mesa e mais. Em muitas
oportunidades, a voz que ecoava nos meus ouvidos era de Luciano do Valle. Ele e
o Sílvio me fizeram acostumar com a Bandeirantes. Virei fã.
Acompanhava o domingo
esportivo com ansiedade. Só em dois momentos eu tirava do canal 06: na hora da
Fórmula 1 e quando eles começavam a Fórmula Indy – eu era tão fã da F-1 que detestava
outras corridas. De resto, via toda a programação do Show do Esporte. Era assim
o nome do domingo esportivo da Band, com apresentação de Elia Júnior.
Em tempos em que a Rede Globo não
transmitia jogos aos domingos, o jeito era ficar ouvindo o radinho e ter uma
certeza: às seis da tarde, poderíamos ver os VTs, na íntegra, dos jogos
disputados naquela tarde na TV Bandeirantes. Dois jogos do paulista e um do
carioca; um, com certeza, na voz do Luciano.
E assim foi durante muito
tempo. Vi também quando estreou o diário Faixa Nobre do Esporte. Aliás, muitos
dos programas dos anos 90 surgidos na TV Bandeirantes foram idéias de Luciano,
que conseguiu transformar a emissora no “Canal do Esporte”.
Confesso que, nos últimos
tempos, não vinha ouvindo mais o Luciano. Em boa parte, não por culpa dele; mas
do Neto, que detesto como comentarista. Mas como não render homenagens a quem
inspirou gerações no jornalismo esportivo? Como não se emocionar com a partida
de um precursor de modalidades desconhecidas? Como deixar de lado um homem que
soube, em uma emissora convencional, dar o primeiro passo para os canais
próprios do esporte?
Luciano do Valle chamava
atenção não por bordões, por tiradas desconcertantes durante os jogos, por
frases repetitivas. Ele tinha um timbre e uma vibração na voz que era indescritível.
Ele sabia como emocionar. Como lançar nomes. Como exaltar a alma do desportista
brasileiro. Lembro que, naquela Copa América em que Ronaldinho Gaúcho despontou,
ele apelidou o garoto de Ronaldinho e que o outro Ronaldinho deveria ser
chamado de Ronaldo. Não lhe deram ouvidos. A forma como Galvão determinou,
ficou: Ronaldinho e Ronaldinho Gaúcho. Anos depois, vejo todos chamando
Ronaldinho, o carioca, de Ronaldo Nazário; e Ronaldinho Gaúcho de,
simplesmente, Ronaldinho. Tardiamente, a idéia de Luciano vingou.
São tantas histórias em torno
deste mito, que o esporte vai chorar por muito tempo. Mas a morte é vida. E Luciano
sai da vida terrena para entrar na cabine da eternidade.
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