quarta-feira, 19 de março de 2014

O menino cadeirante e sua mãe

Até onde a despreocupação das autoridades com a saúde integral das pessoas vai? Quando nós poderemos dizer que temos um sistema de saúde digno, onde ninguém precise fazer sacrifícios para conseguir uma consulta, um exame, uma cirurgia ou uma simples conversa com o médico? Será que teremos que voltar a velha e boa prática – ainda existente em alguns lugares – do médico da família?
No início da manhã desta quarta-feira, passava pela rodoviária, onde fui buscar minha noiva, que voltava de viagem de São Domingos do Maranhão. Eram exatamente cinco da manhã quando cheguei ao terminal. Parei o carro e esperei ela chegar até onde eu estava. Ao chegar, guardamos a bagagem e ela conversou:
- Vi uma cena que não sei se acho engraçado ou se fico com aperto no coração?
- O que foi?
– perguntei.
Ela respondeu: - Tem uma senhora ali, que veio do interior e está esperando passar o ônibus para ela ir ao hospital com o filho dela. O menino é cadeirante e tá caindo de sono. Ele tá com um pastel na mão e não sabe se come ou se dorme.
- Qual ônibus que ela está esperando?
- Sei lá. Acho que Rodoviária. Ela vai para o Sarah, porque ele faz tratamento lá.

Pedi para que ela fosse conversar com a senhora e oferecesse carona. Quando voltaram, vi que se trata ainda de uma mulher jovem, que estava com uma criança esperta e sorridente. Mas, a bem da verdade, com sono. Já não tinha mais o pastel.
Durante a viagem de menos de dez minutos – afinal, a cidade estava dormindo seu último sono daquela noite/ madrugada e as ruas ainda estavam pouco movimentadas – conversamos algumas poucas coisas com a mulher.
- Vocês são de onde?
- Bela Vista.
- Saíram que horas de lá?
- Onze horas.
- Vocês estão aqui desde a madrugada?
- É. A gente tinha que pegar o último ônibus de ontem, pra conseguir ser um dos primeiros hoje. Se a gente deixasse pra pegar o primeiro de hoje, ia chegar tarde.
- E vocês vêm quantas vezes?
- Uma vez só. Não dá pra vir mais vezes.
- E vocês vão hoje mesmo?
- Não. A gente fica na casa de apoio. Ele vai fazer uma ressonância hoje e fica pra aula amanhã.

Apesar de uma realidade corriqueira, fiquei tão abismado que esqueci de perguntar o que o menino estudava.
O discurso daquela mulher com o menino na cadeira de rodas me fez lembrar, mais uma vez, o quanto a saúde em nosso país está atrasada. Em um estado com dimensões continentais, ver esse tipo de situação persistir é triste. Ver pessoas se deslocarem de outros municípios para buscar o tratamento é doído. Saber que elas precisam sacrificar o seu tempo é mais doído ainda.
Se não fosse o amor de mãe, o que seria daquele menino? Será que conseguiria tratar da doença que tem?
E fica pergunta mais esperada: o que os municípios, o Estado e a União fazem para resolver isso? É preferível defender ladrões, que desviaram dinheiro do povo que seria usado em obras para o povo? A preocupação é dar títulos de cidadão deste ou daquele outro lugar? E o que vai acontecer com aquele menino? Vai viver dependente o resto da vida de ter que viajar algumas horas e perder tantas outras para buscar o tratamento?
Me digam, senhoras autoridades!

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