Todo mundo sabe bem que São Luís cresceu desordenada, não
houve planejamento, que as construções foram sendo erguidas de qualquer forma e
ninguém nunca pensou nas consequências disso. Aliado ao incentivo de aquisição
de bens móveis e imóveis, o caos se instalou. Hoje, a capital maranhense tem
tantos carros e motos que é possível imaginar que não haja ninguém nela que não
tenha um transporte próprio e privado. Mas não é assim...
Muita gente ainda depende do transporte público. Gente que
anda se esmagando, se imprensando, se maltratando nos coletivos e até mesmo nos
carros-lotação que rodam por esta cidade, que um dia, já teve charme e glamour
no vai-e-vem de bondes e do trem de passageiros.
São Luís tem uma frota de ônibus que não atende sequer metade
da população da cidade. E se esquecem de contar as milhares de pessoas que vem
do interior para cá todos os dias, seja para resolver problemas, fazer consultas,
visitar parentes. A linha Vila Nova, por exemplo, mais parece um carro de
transporte de carga, que é carregado em ponto e descarregado na outra ponta da
viagem. Entre o ponto final do bairro e o Terminal de Integração na Praia
Grande, os passageiros passam um sufoco danado. É difícil quando o ônibus,
vindo do bairro, já não esteja completamente lotado antes mesmo de chegar ao
Anjo da Guarda. E ao saírem do terminal da Praia Grande, as pessoas que
conseguem uma vaga no coletivo veem uma enorme fila que ainda persiste no
local.
A linha Calhau Litorânea tem situação semelhante. Na verdade,
as duas linhas tem um ligação quase umbilical. Muitas das pessoas que chegam ao
terminal pela manhã cedo, descem do Vila Nova e sobem no Calhau Litorânea. No final
do dia, o caminho inverso. Mas sempre encarando muita confusão e um
empurra-empurra desgastante. Tão desgastante que dá nos nervos!
Mas dá para segurar. Hã? O que? Cadê os ônibus? A frota foi
reduzida. Sem saber disso, uma mulher desce da sua imagem frágil, começa a
protestar e motiva outras pessoas a fazerem o mesmo. A “voz solitária no
deserto” atrai outras vozes. As vozes se transformam em gestos; os gestos viram
protesto. E a cidade pára. Nada de carros andarem; nada de ônibus - eles mesmos, que geraram a confusão - se locomoverem; gente à pé. Uma cidade inteira parada por quatro horas.
Nesta sexta-feira (que não é treze, mas foi de arrepiar), Suzane se
transformou em um personagem que traduz bem a revolta popular contra as
autoridades, sejam elas municipais, estaduais ou federais. Mas o que vai
resultar toda essa revolta, todo esse motim? Será que Suzane vai ser uma
personagem passageira (não no ônibus, mas no vem e vai do cotidiano) ou será
que ela vai ser ouvida de alguma forma e ser aquela que nos fez sentir contemplados
no atendimento de necessidades?
E cuidado, Suzane! Não caía na conversa de certas
autoridades. Ano político... espero que não queiram se aproveitar de você.
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