quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A intolerância religiosa de um gestor público

A legislação brasileira diz: o Brasil é um estado laico, onde as diferenças de cor, raça, religião, credo não podem interferir em nada. Será que alguém disse isso ao prefeito Edivaldo Holanda Júnior? Não era preciso dizer. Um homem que já foi vereador e deputado federal e que hoje ocupa o cargo máximo do município de São Luís, não pode ser ignorante de não ter conhecimento de algo tão básico em nossa nação.
Mas, ao que parece, o prefeito de São Luís está se deixando levar pela intolerância religiosa. Todos sabem que Edivaldo Júnior é protestante, integrante da Igreja Batista – inclusive a que ele congrega fica na região central da capital. Mas não é por ser seguidor de uma determinada religião que ele deve destratar esta ou aquela. E o que tenho percebido é uma certa repulsa.
Edivaldo tem como uma das principais pessoas de confiança do seu governo a secretária municipal de saúde, Helena Duailibe, católica ferrenha, daquelas de acompanhar procissão e tudo, de estar em grandes festejos e sempre acompanhada de seu marido, o deputado estadual Afonso Manoel, outro católico declarado. Mas nem a proximidade com pessoas de outras igrejas que não sejam protestantes parece sensibilizá-lo.
Apontar sem provas? Não! Deixe eu lembrar alguns. Em 2013, quando da abertura da Campanha da Fraternidade, o prefeito foi convidado pelo arcebispo Dom Frei José Belisário da Silva,OFM para participar da solenidade. O tema daquele ano era juventude. Era o primeiro ano de mandato de Edivaldo também. Por se tratar de um homem ainda jovem, deveria se interessar também pelo assunto. O prefeito foi a solenidade, acompanhou a abertura dos trabalhos, foi bem recebido por muitos fiéis, tratado como uma autoridade-celebridade. Porém, ao ser formada a mesa de discussão do assunto, ele se retirou. Não acompanhou a mesa redonda e muito menos a missa. Opção dele, é verdade. Mas penso se ele fez isso por não concordar com os ritos católicos ou porque tinha outros compromissos agendados.
Naquele dia, o fato passou em branco. Mas comecei a duvidar quando da realização da Romaria Missionária. As representações pastorais da IC já haviam solicitado o espaço da Praça Maria Aragão para o evento com antecedência. Porém, na semana do evento, a organização do evento católico foi chamada ao Palácio La Ravardiere para discutir um reajuste de horário. Isso porque estava marcado outro evento para o mesmo local. E era um evento dos protestantes, a Marcha para Jesus. Foi encontrada uma solução – a Marcha fez apenas concentração no local –, mas o fato gerou repulsa entre os membros das diferentes denominações religiosas. Católicos que chegavam ao local e viam a preparação protestante, ficavam sem entender; idem para os protestantes. O atrito de gestos e expressões foi inevitável – nem se precisou de palavras.
Neste ano de 2014, a Campanha da Fraternidade mais uma vez foi ignorada pelo prefeito. Ele sequer compareceu ao evento. Nem preciso discorrer muito sobre isso. Agora, no último final de semana, mais uma demonstração que algo de errado há com o senhor prefeito. São Luís recebe um grande evento nacional da IC: o Congresso da Pastoral Familiar. Milhares de famílias se reunindo para discutir os rumos da família brasileira nos dias de hoje. Só que, mais uma vez, o prefeito ignorou um evento católico. Pediu que a secretária Helena o representasse. Ora, ela indiscutivelmente estaria lá. Por ser membro ativa da IC; por ser uma integrante da PF; por estar em todos os eventos grandes da IC. Seria compreensível esse fato. Mas não dá para suportar a idéia de que para uns ele tem atenção e outros não. Digo isso porque o prefeito não abriu mão de se reunir com pastores locais no sábado. Uma simples reunião – não quero menorizar o evento, pois todo atividade tem sua importância – foi maximizada em relação a um evento de grande proporção. Nem mesmo para dar uma palavra de alegria por ver tantos casais discutindo os rumos da família brasileira. E eu só falei aqui dos choques católicos e protestantes; sequer me reportei a outras religiões, principalmente as de matrizes africanas. Elas também sofreram certa rejeição do prefeito. Basta lembrar a “boa ação” dele em eventos culturais, onde as manifestações afro foram valorizadas, mas não vistas pelo prefeito.
Não quero causar brigas e rachas religiosos. Só quero que o prefeito reveja seu modo de agir em relação a outras religiões. Tivemos prefeitos católicos que souberam agir corretamente com protestantes. Foram em eventos protestantes. Eles não são piores nem melhores que Edivaldo Holanda Júnior. Basta ele agir com isenção religiosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário